Representantes de entidades como o Ministério
Público do RJ, OAB, da política e do ensino acadêmico denunciam
movimento de fragilização da estatal para desnacionalizá-la
A Aliança pelo Brasil, em defesa da
soberania nacional, formada por representantes de diferentes entidades como o
Ministério Público do RJ, OAB, da política e do ensino acadêmico, teve sua
primeira ação pública no final da tarde desta quarta-feira (25), no Rio de
Janeiro. O objetivo, mobilizar a sociedade para preservar o que o país
conquistou nos últimos anos, em risco com um golpe já em curso, ancorado nos
desdobramentos da Operação Lava Jato. Como sempre ressaltado por intelectuais e
políticos que vêm a público para expressar preocupação com esse movimento, eles
deixaram claro que não se busca descaracterizar a necessidade de punição a
envolvidos com corrupção.
Ainda em 2013, veio a público no
mundo inteiro a informação que a Petrobras estaria sendo investigada pelos
Estados Unidos, de acordo com documentos da Agência de Segurança Nacional dos
Estados Unidos (NSA) vazados pelo ex-analista da agência Edward Snowden,
lembrou o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra
de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe-UFRJ), presente no encontro. O alvo da investigação parecia
claro: a tecnologia envolvendo a exploração em alta profundidade na camada
pré-sal.
O cientista político, ex-ministro da
Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, um dos presentes
na mesa da Aliança pelo Brasil, destacou que o país não corre o risco de sofrer
um golpe, o golpe já está em curso. A única saída, sugeriu, seria a unidade do
povo brasileiro.
No rastro da Operação Lava Jato, não
demoraram a surgir indicações (e certezas) de que o melhor caminho poderia ser
privatizar a empresa, e/ou alterar o regime de partilha do pré-sal, cujos
frutos devem garantir, por exemplo, uma grande parcela para a Educação e a
Saúde do país. A forma como a exploração do pré-sal foi arranjada, não teria
agradado o capital financeiro mundial, alertam diferentes entidades e
intelectuais.
José Carlos Assis, jornalista,
economista e professor, apontou os objetivos da Aliança pelo Brasil: defender a
Petrobras e as políticas centrais para o petróleo, principalmente o pré-sal;
garantir os recursos necessários para necessidades de caixa de curto prazo e
para investimentos em curso da Petrobras; evitar perdas na paralisação de obras
e investimentos; conseguir um comprometimento explícito do governo com o modelo
de operadora única do regime de partilha do pré-sal e com a política de
conteúdo nacional de equipamentos; comprometimento com a defesa da engenharia
nacional, colocando como condição fundamental o pagamento das folhas salariais
na cadeia do petróleo e do setor público; e comprometimento do governo com as
políticas de repasse dos recursos do pré-sal para educação e saúde
pública.
Francis
Bogossian, presidente do Clube de Engenharia, em conversa com o JB, alertou para as vozes que defendem a entrada de
empresas estrangeiras para substituir a empresa nacional. "Para mim, quem diz isso deveria ser
preso." Editorial publicado em jornal de grande circulação do país nesta
terça-feira (25), por exemplo, já defendia abertamente que "se a
Petrobras, em condições normais, já tinha dificuldades para tocar esse plano de
pedigree 'Brasil Grande', agora é incapaz de mantê-lo. Não tem caixa nem
crédito para isso. Não há como sustentar o modelo", no caso, o de
partilha.
O manifesto lançado hoje pelo grupo
no Clube de Engenharia destaca: "As investigações policiais em torno de
ilícitos praticados contra a Petrobras por ex-funcionários corruptos e venais
estão dando pretexto a ataques contra a própria empresa no sentido de
transformá-la de vítima em culpada, assim como de fragilizá-la com o propósito
evidente de torná-la uma presa fácil para a fragmentação e a
desnacionalização."
INTELECTUAIS DENUNCIAM GLOPE CONTRA
PETROBRAS EM MANIFESTO
NÃO PODEMOS JOGAR A PETROBRAS FORA,
DIZ LULA EM EVENTO DE DEFESA DA ESTATAL
COPPE ALERTA PARA CONSEQUENCIA DE USO
POLÍTICO DO CASO DA PETROBRAS
"Estão deixando a Petrobras
murchar e, com isso, estão prejudicando não só os empregados da Petrobras, como
também as empresas que prestam serviço para a Petrobras. Podem dizer, 'bom,
essas empresas também estão envolvidas'. Eu repito, se a empresa cometeu aquele
erro, a lei estabelece o que e quem tem que ser punido, se erros foram
realmente cometidos e comprovados. Você não pode matar a empresa, porque aí
você vai desempregar centenas e milhares de pessoas, não só engenheiros, mas
economistas, advogados, técnicos de nível médio e a mão de obra desfavorecida,
os que trabalham para comer. Então você vai tirar o pão da mesa dessas pessoas,
dilacerando com essas empresas, e ouvir que é preciso chamar empresa
estrangeira para substituir a empresa nacional", alerta Bogossian.
Para
Bogossian, a imprensa, em geral, não está entendendo o tipo de luta que precisa
ser travada neste momento, "muito pelo contrário". Ele destacou ainda
o caráter apartidário do encontro. "Não não estamos aqui para elogiar político,
seja do governo federal, estadual ou municipal, e nem tampouco para
criticar", disse ao JB.
"Qualquer abalo ao patrimônio
técnico e social representado pelas tantas empresas do ramo, terá, sem dúvida
efeitos contundentes, que interferirão no presente e no futuro do nosso povo.
(...) Não aceitaremos oportunismo desfrutado por segmentos apoiados pelo cartel
da grande mídia, no sentido de fazer ingressar no país empresas estrangeiras
substitutivas das empresas nacionais", disse posteriormente, ao público
presente no Clube de Engenharia.
Reynaldo Barros, presidente do
CREA-RJ, frisou que, se a cadeia da engenharia for desmontada, o país quebra.
"A engenharia brasileira já começou a ser desmontada."
Roberto Saturnino Braga,
diretor-presidente do Centro Celso Furtado, membro do Conselho Diretor do Clube
de Engenharia, por sua vez, falou sobre a difícil tarefa de mobilizar a opinião
pública em torno desta questão, "contra a totalidade da mídia, que no
fundo é associada a interesses do grande capital".
"A Petrobras é símbolo de coisas
muito caras ao povo brasileiro, é símbolo da capacidade de engenharia
brasileira, da engenharia brasileira, da capacidade técnica, da capacidade
científica, da luta de afirmação nacional, luta que levou o Brasil a sucessivos
passos de encaminhamento de sua soberania, e que está ameaçada, também, por
duas medidas ousadas que teve a coragem de tomar", apontou Braga, sobre a
lei do pré-sal, os Brics e a formação do Novo Banco de Desenvolvimento, como
uma alternativa ao capital do FMI.
"Claro que essa ousadia ia
encontrar do outro lado o atentado, o chamamento ao golpe, porque é uma afronta
ao grande capital", explica Braga.
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