Aprovado esta semana, com três meses
de atraso, o Orçamento Geral da União sofrerá, nos próximos dias, cortes
expressivos para se adequar à meta de esforço fiscal do governo. A presidenta
Dilma Rousseff adiantou que o contingenciamento (bloqueio de verbas) será
“significativo”. Segundo especialistas, a equipe econômica enfrentará
dificuldades para implementar os cortes com decisões recentes do Congresso.
Pelo menos duas medidas aprovadas
pelos parlamentares complicarão os cortes de verbas. A primeira é a promulgação
da emenda constitucional que estabelece o orçamento impositivo para emendas
parlamentares. A segunda é o aumento do Fundo Partidário, que teve a dotação
triplicada de R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões.
Para o assessor político do Instituto
de Estudos Socioeconômicos (Inesc) Rafael Cruz, a ampliação de gastos pelo
Congresso em um ano de ajuste fiscal representa um contrassenso, que torna mais
injustos os cortes orçamentários.
“Em total desconexão com a sociedade,
os parlamentares aprovaram um pacote de bondades em benefício próprio e
empurraram a conta do ajuste fiscal para quem está no nível do salário mínimo”,
critica Rafael. “Sem contar que dificultará a tarefa do governo na hora de
decidir de onde tirar os recursos.”
Em relação ao fundo partidário, Cruz
afirma que o reforço no orçamento não faz sentido enquanto a legislação
permitir doações de empresas a campanhas políticas. “O fundo partidário em si
não é ruim, mas é ineficiente enquanto não acabarem com o financiamento privado
de campanhas. O discurso é contraditório, porque a maioria dos parlamentares
defende a manutenção do financiamento empresarial”, explica.
Economista-chefe da consultoria
Austin Ratings, Alex Agostini informa que, num primeiro momento, a postura do
Congresso impõe dificuldades ao governo para executar o ajuste fiscal. Segundo
ele, é inevitável que a equipe econômica faça concessões aos parlamentares.
“O governo não tem saída. Terá de
fazer acordos e atender ao que Congresso pede para facilitar a aprovação de
medidas impopulares, mas necessárias para colocar o país nos trilhos, como as
restrições ao seguro desemprego”, acrescenta Agostini.
Apesar das concessões, ele diz que é
possível ao governo reduzir gastos. “O custo é mais alto porque o setor público
gastou mais nos últimos anos, mas sempre tem espaço para cortar.
Historicamente, o governo reduz investimentos em momentos como este, mas agora
terá de encarar a situação e cortar gastos correntes [que mantêm a máquina
pública]. Existem muitos ministérios e cargos comissionados que poderiam ser
reduzidos.”
Para Agostini, o mercado financeiro
ainda está aguardando a execução do ajuste fiscal para decidir se reduz a nota
soberana do Brasil, país atualmente na categoria de grau de investimento (sem
risco de calote na dívida pública). “Por enquanto, o mercado está dando um voto
de confiança ao ministro Joaquim Levy [da Fazenda]. Se, no segundo semestre, ficar
comprovado que a meta fiscal não será cumprida, o Brasil pode ter a nota reduzida
em 2016”.
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