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O último
DataFolha explica por que, a depender do juiz Sergio Moro, força-tarefa do
Ministério Público e da mídia grande, a Operação Lava Jato não irá terminar tão
cedo.
Embora já tenha
produzido um massacre jurídico-midiático como nunca houve na política
brasileira, realizando prisões cinematográficas em ritmo semanal por dois anos
consecutivos, seguidas de vazamentos espetaculares destinadas a manter o país
com a respiração em suspenso, do ponto de vista do seu alvo político a Lava
Jato é um fracasso relativo.
Deixando de lado
eufemismos morais e proclamações de tom messiânico, a operação ainda não deu
conta de sua missão principal: eliminar o Partido dos Trabalhadores da cena
política e, para isso, destruir a personalidade pública de Luiz Inácio Lula da
Silva.
Programada para
“deslegitimar a classe política”, como Sergio Moro deixa claro no artigo sobre
As Mãos Limpas Italiana, a Lava Jato se encontra na metade do caminho, ainda
que tenha realizado um desastre político enorme, em grande medida injusto, sem
fundamentos jurídicos apropriados pelo Estado Democrático de Direito.
Desse ponto de
vista, e imaginando que o país poderá cumprir o calendário eleitoral sem
atropelos golpistas, nem Lula nem o PT deveriam ter direito de chegar a 2018
como uma força política-eleitoral expressiva. Mesmo que não seja capaz de
vencer a eleição presidencial, este condomínio construído em volta de Lula
também poderia reunir r condições de polarizar a resistência a um novo governo,
voltado para revogar as conquistas da última década e meia.
Problema: para
37% dos brasileiros, informa Data Folha, Lula continua sendo o melhor
presidente que o país já teve, um patamar sem comparação que se encontra a
anos-luz de outros antecessores.
É um número
ainda mais notável quando se recorda que Lula obteve essa aprovação dias depois
da prisão do publicitário João Santana, da retomada de investigações sobre o
tríplex, o sítio em Atibaia e outras notícias negativas. É bom sublinhar também
que, do ponto de vista técnico, este desempenho – altamente competitivo por
qualquer critério político – foi obtido numa pesquisa onde a avaliação era
rebaixada artificialmente por um questionário no qual as perguntas se limitavam
a apontar pontos negativos.
Como sabe
qualquer calouro de sociologia, se o objetivo era apurar como Lula é visto pela
maioria dos brasileiros, teria sido indispensável incluir, para uma avaliação
mais isenta e adequada, os pontos positivos cumpridos em seus dois mandatos.
Os 37% mostram
que a luta não terminou. Neste patamar, nenhum eventual candidato presidencial
pode ser desprezado. Nem se pode assegurar que seja porta-voz de um projeto
político extinto, que o eleitor não reconhece, não valoriza nem pode reavaliar
positivamente em futuro próximo, quando tiver condições de olhar para fatos e
argumentos com alguma frieza e liberdade de raciocínio.
É por essa
razão, que é possível prever novos ataques, até porque a oposição mostra-se tão
frágil, tão carente de raízes reais junto ao eleitorado, que todo cuidado é
pouco. Seus principais concorrentes conseguem perder intenções de voto mesmo
quando são tratados a pão de ló – o que também se vê no Data Folha.
Não me parece
absurdo constatar uma diferença importante. Lula tem caído com ajuda da mídia,
da Lava Jato – e também da crise econômica – mas os líderes da oposição são
derrubados por méritos próprios.
Pode-se prever
não só novas cargas diretas contra Lula e seu círculo mais próximo, mas também
contra empresários que, de uma forma ou
de outra, integraram o tripé socioeconômico que deu sustentação as mudanças
ocorridas a partir de 2003, alimentado pela “perspectiva de ganhos mútuos com a
ampliação de um mercado de massas – vantajosa para as empresas, para a
sustentação eleitoral dos governos Lula-Dilma e para os assalariados em geral,
em especial para a parcela superexplorada dos brasileiros,” como argumento na
página 19 do livro A Outra História da Lava Jato.
Essa situação
contém uma advertência para o governo e seus aliados, também. Os 37% de Lula se
explicam por uma identidade política construída a partir de 2003, que a
população reconhece e aprova, ainda que, em 2016, esteja enfrentando uma das
mais graves recessões de nossa história econômica. Mais do que nunca, cabe ao
governo preservar e fortalecer essa identidade, mostrando lealdade as
conquistas e direitos obtidos no período.